Gerenciando a ansiedade durante a mudança de carreira: do varejo corporativo à carreira de fotógrafa.

“Então acho que vou ter que me demitir”.

Essa foi a frase mais apavorante que eu falei nos últimos vários anos, além de todas as vezes que eu disse pra mim mesma 'dessa vez eu vou levar a dieta a sério', 'nunca mais vou beber' ou - pior - ‘vou voltar pro Tinder’. A diferença é que a demissão de uma carreira corporativa que me apoiou nos últimos anos, me levou a tantos lugares e me ensinou tantas coisas não é uma decisão que pode ser desfeita - ao contrário da dieta que sempre dá pra começar na próxima segunda-feira de novo (contém ironia).

A mudança da minha carreira pra fotografia começou com uma amiga que tem uma torre (longa história, talvez fique pra um próximo post) e nenhuma idéia do que fazer com a vida, o que me levou a comprar um livro sobre carreira de presente de aniversário pra ela, e então ser convencida pela vendedora que eu deveria comprar um pra mim também.

Era um livro bem danadinho (que também vou deixar pra um outro post) que me fez perceber que apesar de amar meu trabalho (na época, pelo menos) fotografia poderia também ser uma ótima opção de carreira pra mim. Então eu comprei uma câmera.

Eu comecei a levar minha Canon M50 para os rolês e a fotografar amigos. Primeiro eu fotografei a primeira, e talvez ´única, amiga que eu sei que iria concordar em sair em publico no pôr do sol em meio a uma onda de calor em Vancouver, beber cocktail e posar pra mim. Depois vieram as fotos de noivado dessa minha amiga que tem a torre. Depois veio o casamento deles (aquele que eu fui a fotógrafa não oficial, você pode ler mais sobre esse casamento aqui). Depois disso outras pessoas começaram a me pedir por fotos e quando me dei conta as pessoas estavam de fato me pagando pra isso. Loucura, não?

Mas por mais que tudo isso soe fácil, não foi não - precisei de muitas horas de trabalho adicionais depois do meu expediente no corporativo dedicados a aprender um milhão de coisas: desde como usar a câmera, aprender Lightroom e edição de fotos, teorias de composição de cores (que é uma das minhas paixões e eu absolutamente recomendo esse vídeo da Joanna Kustra rainha das cores), compras de presets (todos da única e absoluta India Earl), workflow de edição - que se mostrou muito mais complexa do que eu jamais imaginaria na época, isso sem contar os milhares de dólares gastos em software, câmeras e lentes. Mas quando me dei conta eu tava completamente entregue à fotografia.

E foi notando que as pessoas estavam dispostas a pagar pelo meu trabalho que eu criei coragem de largar o mundo corporativo do varejo e me arrancar completamente da zona de conforto.

Você veja, desde 2010 quando eu tinha 21 anos e sai da casa dos meus pais pra mudar pra Austrália eu tenho me sustentado sozinha, e a sensação de talvez não conseguir fazer isso já que estou prestes a largar a coisa mais segura que já tive na vida - meu trabalho - é completamente apavorante. Então você deve imaginar que a ansiedade bateu forte antes, durante e depois da decisão ser tomada.

Então quando eu decidi mudar para uma carreira corporativa, minha maior ansiedade veio da incerteza do futuro e do medo de não conseguir me sustentar. Eu vou ganhar dinheiro o suficiente? Vou conseguir sobreviver com o que eu ganhar? Será que eu procuro uns freelas ou trabalho meio período pra garantir algum fluxo de caixa? Será que eu tô jogando toda uma carreira fora que eu nunca mais vou conseguir construir?

A questão da ansiedade é que ela vem em ondas e quando ela está na maré baixa ela abre espaço pra criatividade e empolgação com o futuro - mas quando ela tá alta ela faz nosso cérebro entrar em modo de alerta e auto-depreciação. Então eu tive que tirar vantagem das marés baixas pra criar uma estratégia pra lidar com a ansiedade quando ela estivesse em alta.

The thing with anxiety is that it comes in waves and when it’s down it opens space to creativity and excitement, but when it’s high it makes our brain go full into alert mode and self-deprecation. And I had to take advantage of the low waves to come up with my own strategy to better manage it when the wave peaked.

Então eu estabeleci duas ferramentas que sempre me ajudam a gerenciar a ansiedade pela mudança de carreira pra fotografia:

  • Foco naquilo que eu posso controlar: através do planejamento estratégico que cheguei ao responder as seguintes perguntas: quanto dinheiro eu quero fazer em um ano? quantos clientes eu preciso ter pra ganhar esse dinheiro (ou quantos produtos eu preciso vender se sua mudança de carreira te levar nesse caminho)? Quais são as coisas que eu preciso fazer, aprender, comprar e delegar pra conseguir todos esses clientes? E no momento que eu respondi todas essas perguntas e coloquei em um plano anual, ficou muito mais fácil controlar o medo do desconhecido - porque eu já sabia como iria chegar lá.

  • Lembrar que se eu me tornar boa o suficiente na fotografia, ou em qualquer arte que a sua mudança de carreira te levar, eu não vou ser ignorada: um dos melhores livros que eu já li relacionado a carreira chama So Good They Can’t Ignore You escrito por Cal Newport e ele literalmente fala sobre isso e ainda vai além - eu fortemente recomendo essa leitura. Mas uma das questões que ele traz no livro é que uma vez que você sabe o que quer fazer e qual sua motivação pra tal, voce deve por toda sua energia em aprender, praticar e se tornar muito boa naquilo, e eventualmente voce vai se tornar uma referencia pelo seu trabalho e o mercado não vai conseguir te ignorar.

Hoje eu já estou num lugar muito melhor mentalmente que eu estava há 3 meses quando eu tive aquele papo de demissão com a minha chefe. Mas claro que a ansiedade continua batendo na minha porta e entrando de fininho de tempos em tempos, mesmo que em doses menores, mas ao invés de deixar ela tomar controle eu apenas reconheço que ela está ali e volto a focar em seguir o meu plano, atingir aqueles objetivos e continuo a estudar e trabalhar na minha arte. Eu sei que essa fórmula vai eventualmente me levar aonde eu quero que minha carreira criativa chegue.

Espero que isso ajude você também na sua mudança de carreira criativa assim como ajudou a mim. E, se ajudar, escreve aqui nos comentários e vamos continuar essa conversa offline.

Thank you,

Mafe.

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Um micro casamento caseiro no Canadá - e porque é uma excelente idéia ser a fotógrafa não-oficial do casamento dos seus amigos.