Comparação é sim uma coisa boa.

Eu digo que você deveria sim olhar para o trabalho de outros artistas

Quando eu comecei na fotografia eu inevitavelmente olhava para o trabalho de outros fotógrafos. Eu era nova no rolê, não tinha nenhuma idéia da amplitude do universo da fotografia profissional, e não sabia nada sobre estilos. Tudo o que eu sabia era o tipo de fotografia que eu gostava e não gostava, mas em um nível superficial. Então eu inevitavelmente olhava para o trabalho de outros fotógrafos que eu gostava e tentava fazer o meu baseado no deles.

Naquela época eu ouvia muitos fotógrafos e artistas dizendo que você deveria olhar para o trabalho dos outros como fonte de inspiração e não copiá-los - e eu vou ser sincera em dizer que por mais que isso fizesse sentido na teoria, eu não sabia qual era a diferença na prática quando vinha a hora de planejar minhas fotos e entregar o resultado final.

Eu levei um tempo pra entender isso. Compreender a diferença entre copiar e se inspirar foi uma construção pra mim. Então eu vim aqui hoje pra compartilhar com você algumas das coisas que eu aprendi, caso você não entenda ainda a diferença prática entre os dois:

Vou começar dizendo que comparação é uma coisa boa.

Eu ouço muitas (muitas) pessoas dizerem que não devemos nos comparar com outros mas eu discordo veementemente - e polemicamente - dessa frase.

Eu realmente acredito que comparar a qualidade da entrega do meu trabalho com a de outros profissionais que são melhores que eu - veja que ‘ser melhor’ é uma perspectiva pessoal - mantém a minha barra de qualidade lá em cima pra ser alcançada. E, pessoalmente, eu sempre vou trabalhar pra ser melhor e de uma forma saudável eu pretendo nunca me acomodar na qualidade daquilo que entrego. Quando e se eu me acomodar um dia vai estar na hora de mudar de área novamente.

No entanto, olhar para o trabalho dos outros requer um certo nível de inteligência emocional - em especial de autoconsciência, para que você não caia em duas armadilhas:

  • Praticar comparação excessiva e chegar num ponto que ao invés de fazer você querer ser melhor, só faz você se questionar sobre não ser boa o suficiente ao invés de focar em melhorar sua entrega.

  • Copiar o trabalho dos outros e perder todo o seu trabalho autoral - e, eventualmente, seu valor.

Saiba como usar a comparação

Eu tenho uma lista de fotógrafos e educadores que eu admiro e nos quais eu me inspiro por achar que não apenas o trabalho deles é incrível em vários aspectos mas também pela relação que eles têm com o trabalho e forma de viver a vida. Eu os enxergo como indivíduos bem sucedidos além de profissionais bem sucedidos, e isso é o que eu sempre busco alcançar.

Mas ao invés de olhar pra eles como um padrão de excelência inalcançável, eu olho pra eles como referenciais de excelência que me dão uma estratégia clara da onde eu quero chegar e o que eu preciso fazer pra chegar nesse nível.

  • Alguns deles me inspiram pelo tamanho de sua sensibilidade, o que é algo bem subjetivo, e mesmo sabendo que a minha sensibilidade nunca vai ser igual à deles por eu ter a minha própria visão sobre a vida e sobre o amor, eu ainda me inspiro em continuar trabalhando para refiná-la cada vez mais dentro do que faz sentido pra mim.

  • Alguns deles me inspiram em questões mais práticas do trabalho - como a forma com a qual eles editam os verdes das fotos ou utilizam a profundidade de campo na fotografia - o que faz com que eu me desafie em próximos photoshoots a ver como essas mesmas características funcionariam no meu trabalho pessoal.

  • Alguns deles me inspiram em como eles são tranquilos em relação aos negócios e em suas relações com o dinheiro, o que me faz trabalhar duro para mudar meu mindset em relação a escassez e dinheiro para que eu tenha uma visão mais relaxada e abundante sobre ele.

Quando eu junto essa lista de aspectos que me inspiram no trabalho de cada um, eu construo um caminho para melhorar o meu trabalho e meu estilo de vida com um objetivo final (pelo menos por enquanto), e isso por si só já é a metade da minha estratégia de um ano todo.

Saiba como fazer a sua própria versão

Olhando agora para as fotos que eu fazia lá no começo é muito claro pra mim cada vez que eu estava tentando imitar o trabalho de alguém, versos quando eu estava seguindo meus instintos e criando minha própria arte. Eu posso ver isso com clareza desde a forma com a qual eu posava as pessoas até quanto grão eu adicionava na edição final, como eu brincava com reflexos e flare, e por aí vai. Não obstante, todas as vezes que eu tentei copiar o trabalho de alguém ao invés de me inspirar em partes do trabalho deles o resultado eram fotos completamente artificiais e que, a mim, gritavam falta de originalidade.

Isso porque eu estava copiando descaradamente aspectos e idéias específicos ao invés de usá-los como inspiração pra criar a minha própria versão desses conceitos e idéias.

E aí que mora a grande diferença entre cópia e inspiração.

Quando eu penso nesse assunto me vem à cabeça a capa da Vogue US de Dezembro de 2022. É uma foto que a Annie Leibovitz fez da Jennifer Lopez inspirada por uma foto icônica que Gordon Parks fez da performer Eartha Kitt (LIFE, 1952). São essas imagens aqui:

LOVE IS IN THE AIR
Lopez wears a Valentino Haute Couture dress. Leibovitz’s portrait is a tribute to photographer Gordon Parks’s iconic photo essay of the singer and actress Eartha Kitt for LIFE in 1952.

Eartha Kitt photographed by Gordon Parks for LIFE magazine in 1952.

Essas duas fotos me impressionam muito pela suas claras similaridades e diferenças já que cada uma tem o próprio estilo e contexto nas quais elas foram fotografadas enquanto os elementos principais dad fotos são os mesmos.

Nesse caso específico, a fotografia de Annie Leibovitz é uma releitura e uma homenagem na qual os elementos copiados tem a intenção em ser quase literais. Mas é também possível ver o trabalho pessoal da Annie pelo estilo dela e forma de enxergar moda e luxo igualmente escancarado na forma como ela releu Gordon Parks.

Aprenda a encontrar inspiração em outras fontes

Seja você um artista, uma life coach, uma contadora ou uma nutricionista. Encontrar inspiração não deveria ser limitado a olhar para o trabalho de outras pessoas na sua área. Inclusive, quando nos permitirmos encontrar inspiração em outros profissionais, entidades, expressões artísticas, nós ampliamos nossa biblioteca de referências e diversificamos nossa entrega.

O negócio é que a inspiração vinda de outras fontes é algo muito subjetivo e ainda que você não tenha uma idéia brilhante imediata depois de ler um romance clássico, assistir um filme cult ou ler sobre a história da arte medieval, você está ampliando sua percepção sobre vários assuntos diferentes que vão ter o seu papel quando o momento chegar. Tudo o que você consome vai moldar sua percepção única sobre o mundo e de alguma forma vai colocar o seu selo em qualquer idéia e criação que você faz.

Se deixe ser surpreendida por quanto uma boa literatura, uma sessão de terapia, uma corrida no parque, uma nova playlist no spotify de artistas que você nunca ouviu antes, ou simplesmente um caminho diferente que você fizer para o trabalho pode amplificar suas percepções e eventualmente te trazer uma ótima nova idéia - mesmo que quando ela surgir você não consiga mapear da onde ela veio.

Quais são algumas formas, lugares e pessoas aonde você encontra inspiração? Eu vou amar saber e poder trazer para próximas edições da The Renegade.

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Eu estava apavorada em lançar meu primeiro produto digital.