A beautiful mess.
Sabado passado eu tive um trabalho de fotografia comercial que eu estava ansiosa há meses pra fazer.
Tudo começou de um jeito meio mágico. Um dia eu recebi uma captura de tela de uma amiga que tirou dos stories da amiga dela que tinha postado algo como: ‘procuro por fotógrafa - projeto divertido e criativo para a pessoa certa’ e eu imediatamente pensei ser a pessoa para o trabalho (eu tenho esse meu lado que as vezes é absurdamente confiante que AMA um bom desafio, mesmo quando eu não faço idéia do que é ou como executar, eu sei que vou conseguir).
Depois de muitas mensagens e trocas de áudio - levou um tempo pra gente finalmente conseguir falar ao vivo pela primeira vez já que na época ela era mãe de gêmeos de 9 meses - fechamos a data das fotos e começamos a discutir a direção criativa do processo. Tudo era música para os meus ouvidos - uma marca linda e emocional, de muito bom gosto e com produtos de altíssima qualidade (na cartela de cores que eu mais amo - outono escuro), duas pessoas incríveis na frente do projeto e nós íamos fotografar em Bowen Island, que é uma ilha pertinho de Vancouver que eu ainda não conhecia.
A sessão de fotos foi sábado passado e foi assim que aconteceu:
Eu queria pegar a primeira balsa para a ilha pra que a gente pudesse fazer as fotos com a luz linda matinal. Então eu acordei as 5:30 da manha, passeei com meu cachorro já que meu namorado tinha ido numa ski trip, tomei banho, peguei todo o equipamento que eu tinha organizado na noite anterior e dirigi para a Horseshoe Bay, de onde saem as balsas. Mas eu só me esqueci de planejar o horário das balsas (ingênua, eu achei que teriam ferries de 20 em 20 minutos, já que a viagem é tão curtinha) o que significa que eu tive que esperar uns 45 minutos pra subir no ferry. Então eu entrei, estacionei o carro e subi no andar de cima da balsa eu esqueci de toda essa bagunça no momento que eu olhei a ilha do outro lado da água com a luz matinal batendo de viés.
Quando eu cheguei na casa da minha cliente eu tive uma daquelas sensações gostosas que de vez em quando bate e bate muito forte: a de estar no lugar certo, na hora certa fazendo o que era pra eu estar fazendo. Uma família incrível, café maravilhoso, os gêmeos com as cabecinhas mais cheirosas de neném e Banjo, o cachorro mais fofo que ficou meu BFF no primeiro olhar. Então eu sabia que era só o comecinho de um dia delicioso.
Depois de carregar dois carros com produtos, colchões, equipamentos de fotos e os acessórios que íamos usar nas fotos, fomos para a primeira de duas locações: uma praia meio isolada, completamente vazia e pequenininha com uma luz e vista incríveis - e mirtilos frescos pra pegar da árvore. O começo de uma sessão de fotos, pra mim, é sempre um aquecimento. É o momento de entender quais as configurações de camera para aquela específica situação, local e luz, a melhor disposição de produtos e pensar em idéias para mostrar os produtos. Nós tivemos a sorte de uma temperatura deliciosa e a quantidade ideal de luz e sombras - sem chuva e sem muito vento - e um blend incrível de verdes das árvores, azuis do mar, e marrons dos troncos na praia.
Tudo estava ótimo até percebemos que era época de (muito) mosquito e nós não tínhamos repelente - e ao que tudo indica eu descobri ser alérgica as picadas naquele dia. Cinco minutos depois de começar a fotografar e as minhas duas pernas - e bunda - estavam cobertas em picadas gigantes e muito, mas muito irritadas.
Bom, os mosquitos iam ficar lá o dia todo com a gente então minha única alternativa seria ignorar eles completamente. Continuamos com a sessão de fotos e no meio do caminho eu decidi ir no topo de um morro perto da praia pra pegar umas fotos aéreas. Pensando agora nisso eu vejo que não foi a melhor idéia do mundo fazer isso com duas câmeras penduradas em mim, uma câmera analógica no meu pescoço e um iphone novo que ja tinha acabado de se recuperar de uma queda do patinete em alta velocidade. Enquanto eu tava sentada nesse morro fotografando eu notei umas aranhas na grama, algumas tentando subir na minha perna, e os mosquitos sem me dar uma folga das picadas. Mas eu continuei pensando que eu só precisava conseguir a foto que eu queria e depois eu podia descer de volta pra praia.
Foi então que eu notei que tinha um 'degrauzinho’ pra baixo no morro que me levava mais perto da praia e possivelmente eu ia conseguir uma foto incrível onde eu focaria no produto sendo emoldurado pelas árvores em volta. Então eu tive que descer esse degrau.
De novo, olhando pra isso agora eu vejo que não foi minha melhor idéia.
Depois de bater as minhas três câmeras nas pedras ao meu redor (veja que eu não podia simplesmente andar pra esse degrau, eu tive que engatinhar que nem uma aranha (barriga pra cima, pés e mãos no chão) eu decidi que seria melhor deixar as cameras, engatinhar lá antes, e depois pegar as câmeras com esses braços curtinhos que deus me deu. Mas enquanto eu fazia todo esse esquema que na hora me pareceu brilhante, eu negligenciei a existencia do meu iphone que escorregou por mais ou menos um metro em direção ao mar e suas pedras lá em baixo. E foi preciso um movimento corporal muito cuidadoso e calculado pra conseguir pegar meu telefone sem deixar cair uma única pedrinha que fosse fazer ele escorregar e cair num lugar sem chance de resgate.
Graças aos anos de ballet que eu fui obrigada a fazer quando criança, no fim tudo deu certo e eu consegui voltar pra praia em um só pedaço.
Terminada a primeira parte da sessão de fotos nós fomos pra segunda - uma florestinha linda com os verdes mais cênicos no fundo e vista para o mar.
Nos divertimos testando fotos e ângulos, brincando com composição de cores, até que eu tive que usar o banheiro. Quando você tá no meio do nada, a única opção de banheiro é a natureza. Pra mim não tem nenhum problema já que no Canadá nós acampamos muito e sempre no meio do nada e essas coisas viram parte da rotina. Então eu fui atrás de uma árvore bem larga, vi que não tinha ninguém por perto, e comecei a me ajeitar. Até que meu pior pesadelo se materializou: tinha uma cobra no mato vindo em minha direção.
Foi completamente apavorante e claro que eu não tive nenhuma coragem de fazer xixi ali com uma cobra me olhando. Me vesti correndo e tentei passar todo o resto da sessão tentando esquecer que eu tava fotografando em um lugar onde era 100% possível uma cobra subir na minha perna enquanto eu apertava o botão da câmera.
Foi então que o marido da minha cliente chegou com os gêmeos, a nona e o Banjo.
Imagina dois nenéns muito fofinhos e iguais vestidos cada um com um body feito de linho em tons terrosos brincando em um colchão vestido de cores de outono no meio da floresta. Claro que eu tive que fotografar tudo isso e incluir na entrega do material - não tenho nenhuma dúvida que no fim essas foram as melhores fotos do dia todo.
As fotos ficavam mais fofas a cada apertada do shutter button e eu não tava aguentando de ansiedade de chegar em casa e começar a editar as fotos finais (tanto é que eu já comecei o processo na fila da volta da balsa) e eu tive que fazer as tres perguntas que eu sempre faço quando fotografo nenéns: os nenéns estão com fome, você quer amamentar agora, posso fotografar?
Tem uma coisa no ato de uma mãe amamentar seus filhos que eu admiro muito e amo fotografar. É um momento que não pode nem precisa ser posado. É a forma mais bonita da natureza logo ali. É amor e conexão sendo criado e nutrido nas suas formas mais puras. Têm mãozinhas e pézinhos por todos os lugares: puxando o cabelo da mãe, brincando com o colar dela, olhinhos fechando devagar com aquele semblante de satisfação com o leite e a mãe só está ali, fazendo o que ela faz de melhor: nutrindo seus nenéns com leite e amor. A beautiful, beautiful mess.
Essa baguncinha linda me fez esquecer de todas as cobras, os mosquitos, a bexiga cheia e os horários da balsa perdida.
Os nenéns foram embora dormir e nós continuamos a fotografar os produtos. Algumas horas depois, quando finalmente tínhamos todas as fotos que precisávamos, andamos até um outro morro que tinha vista para o por do sol no mar, e tomamos um drink para celebrar o fim de um dia incrível fotografando em Bowen Island.
E naquele momento, logo ali, depois de um dia muito longo fotografando produtos lindos, cercada de pessoas incríveis e inspiradoras, criando conexões deliciosas, cheirando cabecinha de nenéns, fotografando amamentação e com um por do sol bem na minha frente que eu tive mais uma vez a certeza de ter a melhor profissão que eu poderia ter criado pra mim mesma.
Não é só sobre o trabalho, mas sobre tudo que vem com ele e me faz nem me importar com mosquitos e cobras. É sobre as conexões, a beleza na simplicidade e documentar as coisas que fazem as pessoas serem elas.
Por isso que eu sempre digo: contanto que exista amor e conexão, eu estou aqui pra você (e sua marca).
Obri.
Mafe.