Retiro auto-infligido em Porto: tomando controle sobre as coisas que eu nem cheguei a perder o controle ainda (control freak alert).

travelling photographer in spain, park guell

Umas três semanas atrás eu vim pra Europa fotografar um casamento durante um final de semana na Espanha e decidi ficar por aqui um pouquinho (ou um pouco mais do que um pouquinho, maybe). Meu parceiro da vida e a pessoa com quem eu mais gosto de me perder no mundo (e que tirou a foto aqui do post) me encontrou em Barcelona, e depois de cinco dias aproveitando Gaudi, tapas e vinhos, nós dirigimos pro sul da Espanha e pra onde quer que o vento nos levasse. Sorte a minha que o primeiro lugar que ele nos levou foi Valência e eu pude passar um final de semana todinho com amigos antigos da faculdade que eu não via há milhões de anos, mas ainda mantinha a amizade, e pude conhecer os nenéns que nasceram ao longo dos anos. Depois de lá, passamos uns dois dias em Granada pra visitar o Alhambra e comer uma boa dose de churros, seguido de uns dias em Sevilha pra nos perder pelas ruazinhas estreitas, visitar a Giralda e o Alcázar e dar a oportunidade pro meu namorado ter uma overdose de Jámon Serrano. Depois de Sevilha fomos pra Lagos, em Portugal, pra tirar umas férias das nossas férias na costa mais linda que eu já vi na vida.

Na primeira metade desse rolê, em Barcelona, eu ainda estava trabalhando, mas decidi tirar a semana de road trip de férias já que o Leo também tava livre. E, como eu já sabia que ia acontecer, nos últimos 3-4 dias de férias eu fui inundada por um stress gigantesco.

Quando eu trabalhava no corporativo, antes de virar minha própria chefe, eu nunca senti culpa de sair de férias. Ao invés disso eu sentia alívio e uma boa quantidade de stress porque eu sabia que em algum momento eu ia receber uma ligação que começava com ‘Odeio interromper suas férias, mas…’ (eu sei, não é o ideal, mas é a vida do varejo). Mas agora que eu estou voando solo eu tenho um outro tipo de stress - um que é originado na culpa AND na ansiedade.

O interessante é que toda vez que eu viajo e me rodeio de novidades de todo tipo, eu me sinto super inspirada, tenho zilhões de idéias e chego em casa verdadeiramente animada pra começar a semana, voltar pra minha rotininha e colocar tudo isso no papel - pra depois tirar, se tudo der certo. Mas dessa vez a quantidade impossível de idéias que eu tive junto com os projetos que quero tocar e com toda a minha lista de tarefas acumulando coisas pra fazer até o fim do ano (incluindo me mudar em uns 20 dias), essas idéias todas ressignificaram o que era ansiedade pra mim.

Por sorte - e por ‘sorte’ eu quero dizer com ajuda da terapia e auto-conhecimento - eu conheço meus próprios padrões bem demais pra não cair (tão fundo) nessa cilada. Então enquanto eu sentia essa ansiedade toda, além de choramingar pro meu namorado com moderação (juro mozi, tava moderado dessa vez) eu sabia exatamente o que eu precisava fazer pra ganhar de volta o controle sobre ela e me permitir aproveitar mais uns dias de sol no Algarve sem a culpa: tomar controle das coisas que me pareciam estar escorrendo pelas mãos.

Então eu tomei a decisão executiva de estender meu tempo na Europa por mais uma semana e meia e me forçar num retiro auto-infligido de mente, corpo e trabalho: eu reservei uma semana em um hotel cheio de millenial hipster, yoga, quinoa e welcome drinks todos os dias - mas que também é conhecido por ser um destino de nômades digitais, ou seja, é work-friendly, na cidade do Porto (a quem possa interessar o hotel é esse aqui e ele tem hotel em vários destinos incríveis, sempre bem localizados e com um preço bem gentil ao bolso dos autônomos).

E com o intuito de reganhar controle sobre as coisas que eu sentia que tinha perdido - mesmo sabendo racionalmente que não tinha perdido coisa nenhuma - eu decidi criar uma rotina estruturada pra seguir durante essa semana no Porto. Algo que me ajudaria a voltar pro meu ciclo circadiano e melhorar minha produtividade como um todo pra que eu pudesse tirar todas as tarefas da minha lista, e da minha mente.

Significa que além do planejamento semanal que eu já fazia, a tentativa de exercitar todos os dias e de meditar com frequência (o que eu literalmente pulei os últimos três meses de prática) eu juntei um monte de hábitos que eu já tinha em casa com uns hábitos novos que eu li em uns livros recentes e queria testar, e adaptei um sistema pra organizar minhas tarefas de uma forma que me deixasse mais produtiva (e feliz).

Eu explico:

Recentemente eu li esse livro aqui que ensina sobre o ciclo circadiano e como nós podemos aderir a alguns hábitos pra ajudar com o fluxo natural do nosso corpo, liberar bactérias, melhorar o foco, a produtividade e a digestão entre outros benefícios maravilhosos e de longo prazo de acordo com a medicina Ayurvedica. A primeira vez que eu li sobre a Ayurveda e aprendi sobre meu dosha predominante (hello, Kaphas) foi há muitos anos e foi precisamente o que me fez deixar de ser uma pessoa que acordava as 8:45 (vinte minutos antes de sair correndo de casa pra trabalhar) pra ser aquela que acorda entre 5:30-6:00 sem despertador e sem sono. Então eu decidi que tava na hora de ler um pouquinho mais sobre e adotar outros hábitos que fossem recompensar meu corpo por ser tão generoso comigo pelos últimos 34 anos mesmo apanhando de mim por muitos meses seguidos, haha. Mas pra ser honesta eu só tive que fazer uns ajustes aqui e outros ali já que vários desses hábitos já faziam parte do meu dia-a-dia, mas eu sabia que ter uma semana cheia de todos eles com consistência ia me trazer algum benefício.

Além disso eu também (tentei) li O Caminho do Artista, um livro que é referência entre artistas e que tem o intuito de ajudar a despertar a criatividade, e decidi testar escrever as páginas matinais que a artista tanto fala. Eu sei que muitas outras pessoas já falam sobre journaling e eu tô um pouquinho atrasada pra essa tendência, mas eu sempre fui meio cética com essas coisas e nunca vi um propósito nisso. Mas depois de ler tanto sobre como a escrita consistente pode ajudar a destravar o ócio criativo e colocar a gente num fluxo de produtividade, eu decidi que era minha vez de morder a língua e testar uma das trends das quais eu sempre tirei um sarro silencioso.

E, por fim, eu também precisava desesperadamente hidratar meus calcanhares. Eles não estavam nada apresentáveis (as in: disgusting). Assim. Não mesmo. Então eu adicionei a hidratação dos calcanhares pra minha lista.

Ela ficou mais ou menos assim:

  • Acordar entre as 6-6:30 (eu uso o app Sleep Cycle pra acordar cedo e eu amo ele de paixão, sério)

  • Raspar a língua pra me livrar das bactérias que se acumulam durante o sono

  • Tomar um copo de água morna em jejum (pois é, diz que tem que ser morna quando possível)

  • Escrever as páginas matinais

  • Fazer um exercício leve-moderado ainda em jejum (uma yoga, 20 minutinhos de caminhada, ou qualquer coisa que seja natural - fora ficar na cama)

  • Banho + hidratar o calcanhar + café da manhã + trabalho + almoço

  • Antes de comer meu café da manhã (ou ‘pequeno almoço’ que é a coisa mais fofa do mundo que eles falam em Portugal) eu tomo um shot (não alcóolico, juro) de qualquer mistura que seja amarga, azeda e/ou apimentada, que é o indicado para um Kapha em desequilíbrio (alô Ayurveda). Hoje, pro exemplo, eu tomei um shot de cúrcuma + gengibre + limão e não foi legal.

  • Em algum momento antes das 8 da noite eu faço uma janta leve com pouco ou nenhum carboidrato.

  • Depois eu leio um livro, hidrato o calcanhar de novo com muitas camadas de creme e tento dormir entre 9-9:30 da noite.

Mas se você me segue no instagram, eu não vou mentir: aqui em Portugal eu adicionei uma taça de vinho a todos os meus jantares, e esse é meu carboidrato. Judge away. Mas a questão do carbs não é nem por dieta de emagrecer nem nada do tipo, é mais por ser gentil com meu sistema digestivo respeitando o ciclo circadiano dele pra que ele possa descansar direito e funcionar bem na manhã seguinte - if ya know what I mean, wink wink.

Eu também to evitando telas antes de dormir pra que elas não atrapalhem a produção de melatonina. Esse é um lado bom de não ter TV no quarto (estranho, já que é um hotel, mas bom).

A questão toda disso que eu to fazendo é criar ótimos hábitos ainda que deixando um espaço pra espontaneidade - que é muito importante pra mim, pessoalmente. Eu preciso daquela sensação safadinha de quebrar minhas próprias regras diariamente. Então entre uma tarefa e outra eu pego meu computador, ando por aí sentando em cafés diferentes, tirando fotos dos prédios e azuleijos bonitos e falando com pessoas estranhas, e depois volto pro trabalho. Isso me dá muito gás. E contanto que eu continue riscando as tarefas da minha to-do list, eu to feliz.

Além de tudo isso que escrevi ali em cima eu também adotei uns hábitos diferentes na hora de organizar meu trabalho, tarefas e reuniões, que melhorar a criatividade e produtividade. Eles são baseados no conceito de Deep Work que eu adoraria falar mais sobre, mas esse post já ficou muito longo.

Então se você quer saber mais sobre isso, e se quiser saber como foi o resto da minha viagem e se eu consegui mesmo fazer todas aquelas coisas todo santo dia, comenta aqui em baixo pra me deixar (mais) feliz.

Obri,

Mafê.

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